domingo, 8 de janeiro de 2012

Falando em Seridó... Como andam as coisas por lá ?



Nesse espaço da tradição, notar-se-á de maneira determinante a presença da mulher, a dama virtuosa, a dona-de-casa corajosa, cantada em prosa e verso como símbolo de beleza e sabedoria, e que alcançou postos notáveis na história seridoense.

O recorte espacial do Seridó, palco privilegiado de tradições que perpassaram os tempos, carrega de maneira especial as contribuições do branco, do negro e do índio, espólio precioso para a compreensão de tais tradições, difusas através da vivência seridoense, dos costumes, da oralidade, quer seja nos espaços sagrados ou profanos, nas conversas cotidianas ou nas estórias de trancoso contadas nas noites sertanejas aos jovens e crianças.

Assim, é um passado que se faz presente a cada ato, gesto ou palavra que se diz, a cada forma de expressão típica do seu povo, devoto da herança que está calcinada em suas vidas. Do colonizador português herdou-se a religiosidade firmada nos princípios sagrados do cristianismo Católico, de mais pura tradição ibérica, difundido com perspicácia e fervor; do escravo africano, arrebatado de sua terra natal, herdou-se uma rica tradição folclórica, que aparece na danças que teatralizam a guerra; do elemento indígena, enriqueceu-se o vocabulário, a culinária, além de expressões típicas do caráter e do trato com a natureza.

Tais tradições se fundiram nesse espaço privilegiado, sendo difundidas através dos poetas populares e dos folhetos de cordel, portadores da cultura do exemplo, da gratidão, da bravura e da valentia, da ação divina e da sorte dos perversos, além de permear o imaginário com visões e personagens fantásticos. Nesse espaço da tradição, notar-se-á de maneira determinante a presença da mulher, a dama virtuosa, a dona-de-casa corajosa, destino do amor cortês dos rapazes, cantada em prosa e verso como símbolo de beleza e sabedoria, e que alcançou postos notáveis na história seridoense. Também no Seridó que prezava a honra e a gratidão, aparece com notabilidade a religiosidade popular, difundida através da ação dos missionários itinerantes que andavam por essas plagas como portadores da esperança e das benesses salvíficas emanadas da fé cristã. Muitos deles aparecem nesse universo como verdadeiros santos, capazes de operar curas e milagres mediante o dom precioso da fé.
É o velho Seridó das promessas, dos votos, das penitências e dos exemplos sobrenaturais
O exemplo da religiosidade está na gênese de muitos municípios do Seridó, sem contar com o estabelecimento de locais de romaria que emanam uma mística especial… é o velho Seridó das promessas, dos votos, das penitências e dos exemplos sobrenaturais.

Com essas particularidades, o seridoense sedimentou um modo especial de vida, com a vivência de um tempo próprio, evocando a natureza, guiando a labuta diária, as refeições e o trato com o gado, definidor de tantas tradições. É o tempo identitário, infesto às ações da modernidade e pautado pela longa duração; é o tempo do vaqueiro, do boi barbatão, do cavalo corredor e das verdadeiras batalhas definidas entre juremas e cactos.

É o tempo dos personagens destilados pelos cantadores e repentistas nas grandes feiras e nos momentos de festa: é o retrato do Seridó, com seus signos emblemáticos, com as virtudes peculiares dos homens e mulheres, com o odor de santidade das pessoas e dos lugares santos, dos vultos cultuados, das ações condenatórias e do combate aos vícios e pecados, em suma, um espaço que paulatinamente declinava num processo que se pode compreender como a morte do Seridó antigo e que deve ser objeto constante das nossas reflexões contemporâneas.

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