ESTÁ QUERENDO MORAR num lugar tranquilo, onde seja possível sair para trabalhar e voltar pra casa sem preocupação, onde as crianças possam brincar sossegadas, onde não haja risco de balas perdidas, onde os assaltantes lhe deixem em paz, onde os traficantes não batam à sua porta, onde pessoas não sejam assassinadas na sua calçada? Reze e fique longe de Nossa Senhora da Apresentação (Zona Norte), de Felipe Camarão (Zona Oeste), do Alecrim (Zona Leste) e de Lagoa Nova (Zona Sul). Dados oficiais, obtidos com exclusividade pelo NOVO JORNAL, revelam que estes quatro bairros são líderes, em suas respectivas regiões, quando se trata de pedir socorro à polícia.
As chamadas atendidas pela Polícia Militar englobam tudo. Vão dos crimes mais graves, como assaltos, roubos, furtos, arrombamentos, estupros, disparos em via pública e assassinatos, incluindo os casos de ameaça, agressões, lesões corporais, desordens, pessoas em atitude suspeita, consumo e venda de entorpecentes. Cada ligação recebida pelo número 190 da PM vai direto para o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp). Se não for um trote, e for constatado que a vítima realmente necessita de auxílio policial, a ocorrência é então registrada. É assim que funciona.
De acordo com o somatório geral de chamadas registradas pela PM durante o ano que se passou, 74.293 ocorrências foram prontamente atendidas em toda a cidade, o que representam a média de 6.191 chamadas recebidas por mês. É este o tamanho do problema. E isso, somente na capital. Neste item, em 2011, a Zona Norte foi a campeã de ocorrências.
ZONA NORTE
Os dados revelam que, apesar da implantação do programa Comunidade em Paz, 21.333 ocorrências foram geradas a partir da Zona Norte, a maior região da cidade. E o bairro de Nossa Senhora da Apresentação, o maior de toda a Natal, ainda reina absoluto com 5.529 ocorrências policiais registradas ao longo do ano passado.
Em seguida, em segundo lugar, aparece o bairro de Lagoa Azul, com 4.209 pedidos de socorro. Na sequência, surgem os bairros de Potengi (3.945), Pajuçara (3.545), Igapó (2.277) e Redinha (1.784).
Ana Cristina Miranda tem 60 anos. Dona de um mercadinho, há mais de dez anos ela sofre com assaltos. “Meu filho, aqui só Deus pra nos salvar”, disse ela. Com medo da violência, ela não quis saber de fotografia. “Você é louco? Os bandidos vão ver minha cara e voltam aqui depois pra acertar as contas comigo. Deus me livre”, brigou a mulher, assustada com o tema da entrevista. “Se você quiser falar de saúde e de educação, eu boto minha cara pra bater. Mas desse papo de polícia eu quero distância”, acrescentou.
ZONA OESTE
Na Zona Oeste da cidade, a segunda mais problemática com relação à quantidade de ocorrências atendidas pela PM, foram registradas 19.348 chamadas. Lá, o inferno é o bairro de Felipe Camarão. Somente no ano passado, a polícia foi acionada para atender 4.342 pessoas.
Em segundo, vem o bairro das Quintas, com 2.808 ocorrências registradas. Em seguida, não menos preocupante estão: Planalto (2.765), Cidade da Esperança (2.219), Bom Pastor (1.846), Dix--Sept Rosado (1.431), Cidade Nova (1.420), Nazaré (861), Guarapes (830) e Bairro Nordeste (798).
“Eu já fui roubado duas vezes. É sempre a mesma coisa. Você sai de casa e não sabe o que vai acontecer. Não tem polícia na rua”, foi logo dizendo o desempregado Ewerton Conrado de Almeida, 41. “Ano passado me pegaram e roubaram meu relógio. Apanhei tanto que fui parar no hospital. Passei por uma cirurgia no ouvido e hoje tenho problemas de audição. Foram cinco meses muito difíceis no hospital”, contou.
ZONA SUL
A região Sul, de tantos bairros nobres e de tantos estabelecimentos comerciais, é o terceiro no registro geral de ocorrências policiais. Foram 16.024 em 2011, com a liderança absoluta para o
bairro de Lagoa Nova. Somente lá, a PM precisou atender a 3.792 chamadas.
A bela Ponta Negra vem pertinho, logo na sequência, com 3.673 ocorrências registradas. Nos demais bairros, destaque para Capim Macio (1.843), Pitimbu (1.716), Neópolis (1.654), Candelária (1.479) e Nova Descoberta (1.247).
Para o contador Deivison Eurico, 28, ter muita polícia junta, todos os dias na sua frente, não significa que vai adiantar. O rapaz trabalha faz oito anos num centro comercial localizado na própria Amintas Barros. O comércio é movimentado. Gente e carro passando é o que não falta. Assaltantes também. “Tá vendo essa sorveteria aí na frente? A Sorveteria Tropical? Vive cheia de polícia. Todo início de tarde falta estacionamento pra tanta viatura. Mas a polícia só vem aqui pra tomar sorvete. Depois, desaparecem todas. Não fica uma viatura. Por isso sempre tem assalto aqui”, contou Deivison.
ZONA LESTE
Por i m, vem a Zona Leste, onde também estão concentrados os maiores e mais movimentados centros comerciais da cidade. Na maioria dos bairros da região, é importante o registro, reside a elite da sociedade natalense, principalmente no chamado Plano Palumbo.
Porém, apesar de tantos atrativos para a criminalidade, a Zona Leste ainda pode ser considerada a região menos trabalhosa para a polícia. Ano passado foram contabilizadas 15.341 ocorrências, tendo sido a grande parte delas originadas do centenário bairro do Alecrim. Foram 3.485 chamadas atendidas pela PM.
Em segundo, vem a ainda mais antiga Cidade Alta, o primeiro bairro de Natal, com 2.399 ocorrências registradas em 2011. Fechando a lista, vêm os bairros de Mãe Luiza (1.758), Tirol (1.491), Petrópolis (1.310), Praia do Meio (1.028), Rocas (979), Lagoa Seca (770), Santos Reis (674), Ribeira (526), Barro Vermelho (517) e Areia Preta (345).
Na Zona leste falar de segurança causa pavor. “Não precisa. Você tá vendo aí que não tem polícia. Aqui a segurança é Deus”, resumiu um vendedor que não quis nem dar o nome.
LUGARES SEGUROS
Existem dois lugares na cidade onde o índice de ocorrências policiais é zero. Um deles é o Parque das Dunas – a maior reserva de mata atlântica em área urbana do país. O outro é a área denominada de Salinas – manguezais que margeiam o Rio Potengi.
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